terça-feira, 17 de março de 2009

Contos Gauchescos - obra principal de Simões Lopes Neto

Uma das brilhantes inovações técnicas de Simões Lopes Neto, no contexto da literatura brasileira, foi ceder a voz narrativa de sua principal obra – Contos Gauchescos – a um velho vaquiano, Blau Nunes.
Percebem-se no decorrer dos dezenove contos as qualidades do narrador e paralelamente, os seus limites. Dois traços tornam-se nítidos: a oralidade e o regionalismo da linguagem e a fixação do mundo gauchesco.
A visão de Blau Nunes em relação ao gaúcho é ambígua. Por um lado, celebra-lhe as virtudes: a hombridade, a bravura, a honestidade, etc. Por outro lado, ele é essencialmente um gaudério, um homem que tem de seu apenas um cavalo e as habilidades campeiras e guerreiras. Alguém que pertence ao núcleo dos “de baixo” e que olha para os “de cima” com certa desconfiança.
Blau Nunes aparentemente subscreve todos os princípios heróicos e machistas do gaúcho, mas, no transcurso de suas histórias, acaba por contestá-los. A significação moral das histórias exige-se sobre um sentimento de relativo desconforto no narrador com a violência imperante no território gaúcho: a destruição do boi em serventia [O boi velho], a carnificina guerreira [O anjo da vitória], etc.

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